sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

1996 (parte II)


Estava assustada com a notícia, mas como ainda demoraria até o fim do ano escolar para o Daniel ir embora, então resolvemos aproveitar cada segundo juntos. A mãe dele gentilmente ligou para a minha para que eu fosse passar as tardes na casa deles até eles providenciarem a mudança. Passei a ir direto da escola para a casa do Daniel, e percebi que não tinha nada a ver com o caminho da minha, e ele apenas sorriu quando toquei no assunto.
            A mãe dele era uma simpatia só e, após almoçarmos e fazermos as tarefas, íamos nos divertir. Jogávamos War e de dois não teria a menos graça, mas estávamos apaixonados e bastava o sorriso de dentes brancos e quase perfeitos do Daniel para que o War fosse a 8ª maravilha. Experimentamos dominó, xadrez e inúmeras modalidades de jogos de tabuleiros que ficaram comigo quando eles foram embora.
            Ríamos muito naquelas tardes quentíssimas que foram as dos últimos meses de 1995, conversamos, fizemos mil planos que envolviam desde sequestros a fugas milaborantes. Não colocamos nada em prática, hoje sei que era uma forma de conviver com aquele buraco que estava sendo aos poucos cavado nos nossos peitos sem que nada pudéssemos fazer além daquelas pás inúteis de areia de sonhos.
            Um dia antes da família do Daniel viajar, ficamos sós na casa dele, porque a mãe tinha que resolver alguma coisa da burocracia da casa deles. Foi nesse dia que nós tivemos nossa primeira vez. Quase morri de vergonha quando ele tirou minha blusa e não consigo lembrar como foi mesmo que fiquei sem o restante da roupa. Lembro mesmo, e intensamente, dos olhos negros dele nos meus enquanto ele pesava o corpo dele em mim; lembro muito do cheiro dele, das gotas de suor que brilhavam na testa dele e talvez na minha enquanto nos explorávamos na nossa estreia; lembro-me do gosto do Daniel na minha boca, mesmo horas depois enquanto fingidamente assistíamos ao que quer que fosse que estivesse passando na TV esperando a mãe dele chegar; ele tinha gosto de saudade, de paixão adolescente, de biscoito de arroz e de vontade que durasse mais um pouquinho; lembro muito do cabelo que caía no olho; da pele branca, mas que estava rosada naquele momento, não sei se do calor, da timidez que ele nunca me contou se sentiu ou da falta de jeito que nem eu nem ele tínhamos devido à nossa inexperiência.
            Não foi mágico como se conta nos filmes americanos, nem pornográfico como se conta nos filmes brasileiros, foi íntimo, dolorido física e metafisicamente e teve gosto de “tchau”.

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