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Ela morreu! Morreu! Morreu! Morreu...
Acho que o seminarista gritava pela nave da igreja
tentando se convencer da verdade. Mas aquilo não era possível: a deusa que,
secretamente, adoravam, havia morrido.
A camisa dele amassada para fora das calças, a calça
salpicada de lama, os cabelos desgrenhados... Tudo indício de que, na cabeça
dos homens da igreja, a coisa não ia
muito bem. E agora?
Sem saber direito o quê ou como fazer, pendurou-se na
corda do sino que ia do chão ao alto do campanário e começou a balançar-se. O
movimento para lá e para cá, o fazia pensar nas circunstâncias do ocorrido:
como teria sido? Fulminantemente? Não, não, imediatamente descartou essa
hipótese, o desgaste d´Ela era velho conhecido, aliás, aquilo já era de se
esperar...
Elaborou novas hipóteses, conjecturou até mais não poder,
até a cabeça arder de tanta dor de pensamento. Desabou exausto no chão, estava
tonto de forçar os neurônios. Largou-se no chão e deixou-se ficar.
- Como pode? Como pode? Por que fizeram isso com Ela? Aliás,
fizemos... Vimos a coisa acontecer e não fizemos nada, então... Então, também
somos responsáveis, somos cúmplices! Somos mais que isso, somos coautores! E agora? E agora? Será o nosso fim? Será que
perderemos nosso poder para sempre? Não merecemos! Não merecemos!
As lágrimas escorriam pelo chão de mármore... Lavavam
aquele chão que tantas vezes ouvira a deusa em ação...
“Oh,
Deusa-Língua, Mãe-Latim, retorne do seu túmulo e nos presenteie com sua
magnitude”, pediam os últimos pensamentos lúcidos que passaram pela cabeça do
seminarista. Era seu último apelo!
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