quarta-feira, 24 de abril de 2013

A deusa que morre


- Ela morreu! Morreu! Morreu! Morreu...
            Acho que o seminarista gritava pela nave da igreja tentando se convencer da verdade. Mas aquilo não era possível: a deusa que, secretamente, adoravam, havia morrido.
            A camisa dele amassada para fora das calças, a calça salpicada de lama, os cabelos desgrenhados... Tudo indício de que, na cabeça dos homens da igreja, a coisa  não ia muito bem. E agora?
            Sem saber direito o quê ou como fazer, pendurou-se na corda do sino que ia do chão ao alto do campanário e começou a balançar-se. O movimento para lá e para cá, o fazia pensar nas circunstâncias do ocorrido: como teria sido? Fulminantemente? Não, não, imediatamente descartou essa hipótese, o desgaste d´Ela era velho conhecido, aliás, aquilo já era de se esperar...
            Elaborou novas hipóteses, conjecturou até mais não poder, até a cabeça arder de tanta dor de pensamento. Desabou exausto no chão, estava tonto de forçar os neurônios. Largou-se no chão e deixou-se ficar.
            - Como pode? Como pode? Por que fizeram isso com Ela? Aliás, fizemos... Vimos a coisa acontecer e não fizemos nada, então... Então, também somos responsáveis, somos cúmplices! Somos mais que isso, somos coautores!  E agora? E agora? Será o nosso fim? Será que perderemos nosso poder para sempre? Não merecemos! Não merecemos!
            As lágrimas escorriam pelo chão de mármore... Lavavam aquele chão que tantas vezes ouvira a deusa em ação...
“Oh, Deusa-Língua, Mãe-Latim, retorne do seu túmulo e nos presenteie com sua magnitude”, pediam os últimos pensamentos lúcidos que passaram pela cabeça do seminarista. Era seu último apelo!

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