domingo, 9 de outubro de 2011

Vestígios

Vasculho as prateleiras buscando você. Qualquer rastro, qualquer indício, qualquer coisa.
Minha busca se amplia, quero provas de que você passou na minha vida. Quero palavras, declarações de amor em rimas, crônicas, ficção ou realidade. Pode ser em cores ou preto e branco, pode ser de dia ou à noite, mas quero saber como foi, o que eu senti e o que fez em mim.
Os vestígios daquelas tardes de domingo em que sumíamos com o controle da TV e, às gargalhadas, discutíamos o existencialismo em Sartre e em Clarice. Ou simplesmente nos olhávamos até decidir o que fazer com nossa sede e nossa fome de nós mesmos. Quero o sabor da solidão de quando você não esteve e a amarga presença da tua ausência, que eu tanto insisti em lhe explicar e você fingia que não entendia.
Nunca senti sua falta, só conseguia sentir sua presença: nos quadros, nos livros, nos discos de vinil empilhados tristemente na estante. Eles só ficavam eufóricos na sua presença, caso contrário, me abandonavam.
Quero encontrar com aquelas horas infindas de abandono quando não dormia com você, pois fingia querer dormir sozinha e você ia para sua casa. Nem era abandono de verdade!
Mas não encontro nada disso. Fiz faxina das suas digitais na minha pele, das suas marcas pelos meus lençóis... Exterminei qualquer possibilidade de sentir a necessidade de ter você!
Matei, queimei, afoguei as cinzas em inúmeros goles de tequila e curti a ressaca do fim disso tudo. “Isso” que nunca teve nome, pois era sublime, era sagrado, era intocável e se tornou urgente demais ao ponto de que não suportasse mais respirar sem você. Então...
Então, eu abri mão. Não podia, como nunca pude, precisar tanto assim! Não foram esses os planos que fiz, não quero nem posso perder o controle de mim mesma dessa forma como você faz comigo!
Abri mão e o expulsei da minha vida para sempre, fiz de uma maneira que fosse definitiva. E agora, como se fosse dependente química ou física, vasculho escondidamente todos os recantos buscando por você.
Mas não quero encontrar seus vestígios...

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