terça-feira, 22 de novembro de 2011

O sacerdote e a feitceira (II)

Muito tempo passou até que ela abrisse os olhos. Nada acontecia.
Como o silêncio se tornou pesado demais ela resolveu abrir os olhos e se dirigiu até a porta de sua cela, que agora estava aberta. Aquilo não era ato de nenhum inquisidor, pois eles não precisavam ser discretos, principalmente ali. Mais por curiosidade do que por qualquer motivo que conseguisse imaginar – desespero? – empurrou lentamente a porta recém aberta pelo lado de fora. Estranhamente a porta cedeu e ela olhou para o corredor sombrio e não havia nenhum tipo de movimento vindo de nenhum dos lados. Tudo dormia.
A cada passo que dava sentia o cheiro de liberdade que se esforçava para evitar. Não queria nem podia se iludir que um dia pudesse encontrar de novo com ela.
Mas ao alcançar o final do corredor avistou a tênue luz da madrugada que anunciava mais uma manhã nevoenta. Talvez já estivesse bem perto do equinócio de verão. E sentiu o cheiro de fora sendo jogado no seu rosto como se fosse um abraço de um estranho.
Depois de tantos dias sem ver o mundo lá fora, com seus cheiros e suas cores, finalmente ela pode sentir o impacto da vida novamente no seu corpo. Pela primeira vez respirou de verdade, com os pulmões plenos de ar até quase explodirem. Não importava quanto suas costelas doíam nem os inúmeros pontos de dor e mais outros tantos em completa e total insensibilidade. Ela queria a vida mais que tudo. Nem podia mensurar o quanto, mas era somente isso que deseja mais que tudo.

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